domingo, 18 de novembro de 2012

Primeira paragem: Somonte

Somonte é um latifúndio ocupado com cerca de 400 hectares. Propriedade da Junta da Andaluzia e portanto terreno público, nele pouco era feito, dando emprego apenas a uma pessoa.


A Caminho

Arrancámos de Lisboa e de Faro Quinta-feira de manhã, dia 1 de Novembro. As duas comitivas encontraram-se em Sevilha, a partir de onde seguiram em conjunto. Perto de Palma Del Río, município onde se localiza Somonte, nada na estrada permitia com certeza saber onde se localiza a herdade. Apenas um carro da guardia civil, postado de forma suspeita no meio de coisa nenhuma, ao lado de uma linha de água que um caminho de terra cruzava, permitia especular que ali se passa algo fora do normal.

Seguimos caminho rumo a Palma Del Río, ignorando a suspeita. Aí descobrimos que era mesmo ali, indicado pelo carro policial, que se iniciava o caminho em terra para a herdade. Voltámos a trás uns poucos quilómetros, cruzámos sem problema a polícia e pouco tempo depois entrámos nas terras ocupadas por várixs pessoas, com o apoio do SAT.


A Chegada

Impossível não perceber logo à chegada onde nos encontrávamos. Várias pintadas e murais indicavam o objectivo e a força de quem faz de Somonte a sua terra, desde Março deste ano. Somonte Pal Pueblo (Somonte para o Povo), Esta Tierra Es Del Pueblo (Esta Terra é do Povo) e uma que raramente se vê mas que nestes tempos faz ainda mais sentido: Andaluces, No Emigreis. Combatid! (Andaluzes, não emigrem. Combatam!). Numa época de crise em que tanta gente emigra, por falta de oportunidades de vida, o apelo a que as pessoas fiquem na sua terra e de forma colectiva criem oportunidades e condições de vida é oportuno, importante, combativo e uma solução de longo prazo para um problema recorrente no capitalismo, as crises económicas.

A actual posse da terra em Somonte, ao contrário do que acontecia antes com a posse pela Junta da Andaluzia, não deseja exclusividade. Como escrevíamos, as pessoas que desta terra a fazem sua, estão a criar as condições para que estes 400 hectares sejam um local de sustento para muitxs trabalhadorxs do campo, para que muitas famílias possam desta terra obter sustento e uma vida digna.


A Estadia

Durante as menos de 24 horas em que estivemos em Somonte, a hospitalidade foi constante. Não se sentiu nenhum cansaço das pessoas que nos receberam por porventura estarem a responder às mesmas perguntas mais uma vez, dado que Somonte tem tido bastante atenção e visitas desde o início. Pelo contrário, havia um interesse genuíno em conversar connosco, explicar o que lá acontecia, colocar-nos ao corrente da situação da herdade, com as dificuldades e potencialidades que este processo contém.

Um dos murais pintados em Somonte
As refeições foram tomadas em grupo, a confecção preparada em conjunto. Ficámos instaladxs de forma espartana mas confortável, dentro de um casão da herdade. Observámos, no casão de refeições, através de cartazes, panfletos e periódicos vários, o que tem sido a actuação do SAT, a solidariedade de outros colectivos com a ocupação de Somonte e as visitas à herdade.

Pudemos trabalhar na terra durante uma manhã e tomar conhecimento do projecto que têm para florestar as linhas de água da herdade, de forma a prevenir a erosão das terras, um projecto conjunto com Ecologist@s en Acción e Longo Maï.

Neste momento há cerca de 20 pessoas em permanência em Somonte, semeando e plantando a terra. Para acompanhar o que lá se passa, podem ser visitadas a página oficial e a página do facebook, esta actualizada mais regularmente.



Na Andaluzia com o SAT (Sindicato Andaluz de Trabalhadores)

Um dxs companheirxs de viagem escreveu o seguinte relato da viagem, afixado originalmente no blog da Tertúlia Liberdade.

Na Andaluzia com o SAT (Sindicato Andaluz de Trabalhadores)



A Tertúlia Liberdade e amigos estiveram nos primeiros dias de Novembro na Andaluzia. Tratou-se de mais uma visita ao Sindicato Andaluz de Trabalhadores (SAT) para conhecer os avanços das lutas nas cidades e campos da Andaluzia.
O primeiro dia foi passado em Somonte, uma quinta ocupada pelos trabalhadores rurais nos arredores de Palma del Rio. Vigiados pela Guardia Civil, que já tentou desocupar a quinta, os visitantes acompanharam o dia-a-dia da vida desta exploração agrícola onde agora se constrói a utopia.
Seguiu-se Marinaleda onde visitámos a cooperativa de Los Humosos e uma fábrica de transformação de produtos vegetais. Estivemos ainda na sede do Ayuntamento e no Bairro de Autoconstrução testemunhando formas diferentes de fazer política autárquica e de habitação.
Em El Coronil fomos recebidos por Diego Cañamero, porta-voz do SAT com quem trocámos impressões ficando a conhecer os novos desafios que se colocam ao sindicato e à luta que vem travando há mais de três décadas. Em quase duas horas passou-se em revista as recentes ocupações de terras, as questões relacionadas com a produção agrícola nas diferentes cooperativas, o nacionalismo andaluz e os projectos para um futuro que se quer de luta na construção de um mundo novo.
O último dia foi passado em Sevilha, com a Corrala de Vecinas La Utopia. Trata-se de uma comunidade de famílias de desempregados, de desalojados que perderam as suas casas e de gente pobre que ocupou um prédio, propriedade dum banco, mas que se encontrava devoluto no centro de Sevilha. Ali moram e resistem sem água, sem luz… e sem medo.
Foram quatro dias de intensos contactos e de recolha de materiais que vamos agora dar a conhecer por cá. Porque há outras formas de fazer sindicalismo que merecem ser apoiadas e divulgadas.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Regresso a Portugal

A viagem terminou, a comitiva regressou a casa. Foram quatro dias intensos, dos quais iremos dando conta durante as próximas semanas, com testemunhos, fotos e vídeos. 

Até já!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Tenho muita curiosidade e entusiasmo social, político, pessoal, cultural, económico, geográfico, agrícola etc para conhecer o SAT, as pessoas e experiências que iremos conhecer mais de perto nesta viagem.
Estou a iniciar o 3º ano no Mestrado de Economia Social e Solidária (ISCTE-Lisboa), onde se fala muito de alternativas, reais e sonhadas, como o SAT.
Parabéns e obrigada pelo blog, um meio de comunicação partilhada muito rico.
Abraço e até já
Marta G.

Relato da nossa viagem em 2010

Em baixo segue o nosso relato sobre a visita que em 2010 efectuámos. Que reencontremos animad@s @s companheir@s de luta e possamos aprofundar a solidariedade entre nós e a compreensão da importância da luta para a conquista de uma vida digna para todos os seres humanos.


a tertúlia na andaluzia com o sindicato de obreros del campo SAT/SOC


No fim-de-semana do 5 de Outubro tivemos a oportunidade de visitar alguns projectos andaluzes que se constituem com uma forma de organização diferente da maioria daquilo que conhecemos, tendo como traço comum a importância dada à organização democrática horizontal. Visitámos o SOC/SAT (Sindicato de Obreros del Campo e del Medio Rural de Andalucia/ Sindicato Andaluz de Trabalhadores), o município de Marinaleda e a cooperativa La Verde de Villamartín.

Partimos de Lisboa no Sábado de manhã e chegámos a Benamahoma ao final da tarde, onde ficámos alojad@s em casa de um companheiro conhecido de viagens anteriores. Uma recepção calorosa e pouco depois já estávamos à volta da mesa a beber vinho de produção local e a definir pormenores da nossa visita.

Domingo visitámos o rancho do Bartolo com as suas cabras, das quais retira o leite com que faz o tradicional queijo. O Bartolo é um homem de 86 anos que apesar da idade mantém intacta a lucidez política. Ele e o seu irmão, onze anos mais novo, contam-nos aquilo que acham da actual crise económica, indo muito além do que estamos habituad@s em terras lusas, através do questionar profundo do papel da banca e dos partidos políticos na actual crise. Para estes homens a especulação financeira, o papel da banca e do poder político no despoletar da crise são evidências que conhecem e discutem com profundidade exemplificando com o que se passou em Espanha. Depois da visita ao rancho, descemos da montanha e rumámos a Cádiz. A tarde de Domingo foi para visitar a cidade e apanhar sol na praia.

Na segunda-feira visitámos Marinaleda, onde o compa Rafa nos conduziu numa visita à povoação, respondendo as todas as nossas questões e abrindo-nos a porta de sua casa para que pudéssemos ver como são as casas auto-construídas de Marinaleda. Visitámos primeiro o Ayuntamiento, o orgão de poder local mais próximo das populações, algo como a junta de freguesia em Portugal. Aquilo que logo saltou à vista foi ver o gabinete do presidente, que em Portugal muitas vezes está pouco acessível, situar-se mesmo à entrada, de porta aberta. A sensação de proximidade e disponibilidade foi imediata. O nosso guia disse-nos que mais que uma sensação, a proximidade das pessoas com o governo da sua terra é real, pois sempre que necessário são convocadas assembleias-gerais para decidir sobre questões importantes no município. A qualquer pessoa é permitida a participação na assembleia.

Em seguida visitámos a cooperativa, onde de momento se processam os pimentos, e depois a quinta El Humoso, cujos 1200 hectares produzem tudo aquilo que a cooperativa vende, maioritariamente pimento, alcachofra, azeitona, azeite. A mecanização é evitada enquanto geradora de desemprego. Não deixam contudo de existir algumas máquinas, pois a cooperativa compete no mercado livre, onde as preocupações com o emprego e a qualidade de vida das pessoas são um valor subalterno.

Apesar do que já dissemos noutros textos sobre Marinaleda e o SOC, convém recordar que estes 1200 hectares que dão trabalho a 500 pessoas com um salário diário de 47€ são geridos de forma directa. Foram conquistados a um latifundiário que empregava apenas quatro pessoas deixando as terras ao abandono enquanto a população à volta morria de fome. Através da ocupação das terras e subsequente luta, foi possível devolver a terra à população para benefício de todos.

Ao voltarmos do campo, fomos almoçar no bar da União Local do SOC. Debaixo de uma aparência normal surgiam pequenos indícios de que algo diferente ali se passa. Algumas pessoas envergavam camisetas, ou t-shirts, com frases alusivas a outras lutas, como o caso dos Zapatistas no México. Se em Portugal isto também acontece, não acontece certamente com pessoas maduras do campo mas apenas com jovens activistas citadinos. Aqui, em Marinaleda, o sonho contínua vivo em todos e presente na realidade quotidiana. Outro indício foram os dois cartazes com informação alusiva à povoação. Um abordava os Domingos Vermelhos em que a população se reúne para trabalhar em conjunto em benefício da sua terra de acordo com o decidido em assembleia. O outro era um Pai Nosso camponês, em que se exaltava o amor à terra andaluza.
Findo o almoço, foi tempo de nos reencontrarmos com o Rafa para conhecermos as casas auto-construídas. Sendo ele um dos habitantes dessas casas, pode explicar-nos em primeira mão como funciona esta proposta habitacional. Qualquer pessoa que viva em Marinaleda há pelo menos quatro anos se pode candidatar a uma destas habitações. Se escolhida compromete-se a colaborar na construção da sua habitação, desde o seu início até que termine. Finda a construção, fica a pagar uma renda mensal que ronda os 15€ durante 20 anos. Para evitar especulação com a habitação, não é possível pagar adiantada a mensalidade e ficar com a propriedade da casa. O terreno de implantação é cedido pelo Ayuntamento e os materiais pela Junta da Andaluzia. As casas têm todas os mesmos traços gerais, para normalizar os gastos, sendo depois cada pessoa livre de acrescentar ou modificar partes da estrutura. A casa padrão tem cozinha, sala e quintal na zona térrea e três quartos no primeiro andar. Pareceu-nos um local aprazível para se viver, a preços muito acessíveis, sendo a habitação realmente um direito de quem vive em Marinaleda.

Terminado o tempo de visita, que foi muito mais curto do que aquele que nos permitiria entrar nos pormenores, rumámos em direcção a El Coronil para visitar o Centro Obrero Diamantino Garcia onde reúnem os activistas do SOC. Aqui explicaram-nos como o sindicato funciona e a experiência que têm tido com a actividade partidária. De lembrar que nos anos 80 o SOC criou um partido político, a CUT – Colectivo de Unidade dos Trabalhadores, que se inseriu numa plataforma de movimentos de esquerda, todos agrupados sob o nome de Izquierda Unida. À semelhança de Marinaleda, as decisões mais importantes são tomadas em assembleia geral, de certa forma como acontece com as cooperativas em Portugal, mas com a diferença de que na Andaluzia, fruto da cultura local, existem de facto inúmeras assembleias por ano. Enquanto El Coronil foi um município dirigido pela CUT manteve-se a mesma forma de funcionamento do SOC, sendo os/as vereadores/as eleitos/as executantes da vontade popular.

Um facto importante que nos foi relatado é a dificuldade existente em activar as camadas mais jovens da população, já que estas se apresentam na maior parte das vezes desinteressadas da luta política - política, não partidária, convém sempre frisar – a luta que lhes permitiu melhorar as suas condições de vida e permite ir respondendo aos ataques do capital, do despovoamento e da alienação. Mesmo assim o SOC tem feito inúmeros workshops sobre sindicalismo dirigidos aos mais jovens.

Outra experiência iniciada pelos vereadores ligados ao SOC foi a das hortas comunitárias para reformados. O município cedeu terrenos aos reformados que podem assim ocupar o seu tempo livre cultivando produtos hortícolas.

Finda a visita, voltámos à nossa base em Benamahoma, para a última noite antes do regresso e para conversas descontraídas à volta de música e vinho.

Terça-feira, foi o dia de visitar o último local a que nos tínhamos proposto, a cooperativa La Verde de Villamartín, onde uma acção de florestação há alguns anos torna possível um ambiente fresco mesmo em dias de sol outonal ainda quente. Espreitámos a estufa com as pequenas plantas a nascer, vimos o banco de sementes e conversámos com as duas padeiras, que preparavam a massa, cerca de 70 quilos, para vir a ser cozida no forno tradicional e que dará para os pedidos que lhes foram encomendados.


Foram horas mais descontraídas, em que o caminho de regresso e os planos que queríamos alinhavar nos começavam a ocupar mais a mente. Tempo de despedida de quem nos abriu as portas das suas casas e nos mostrou o espírito que anima os seus afazeres diários. Última oportunidade para nos imbuirmos desse mesmo espírito, dessa mesma garra e trazê-la para Portugal, para inspirar toda a gente que neste lado deseje construir uma vida assente na emancipação, participação e solidariedade. 

domingo, 28 de outubro de 2012

O que é o SAT e que acções tem feito

Aqui iremos colocar em breve (possivelmente apenas depois da viagem) alguma informação sobre o SAT - Sindicato Andaluz de Trabajadores/as e as acções mais recentes que têm desenvolvido.
Até lá, recomendamos qie sigam as "hiperligações interessantes", no topo da barra direita deste blog.

Até já!

Para quem não vai na viagem


Quem não vai fazer esta viagem connosco mas gostaria de saber algo sobre o SAT, Marinaleda, as ocupações de terras e de bancos, ou outra das suas muitas acções e lutas, pode fazer chegar-nos as suas questões, através de correio electrónico - visita2012andaluzia@gmail.com - ou através das caixas de comentários deste blog.
Agradecemos contudo que antes de nos escreverem verifiquem se a questão que pretendem colocar não está já na secção "O que queremos saber".

Grat@s

Programa da visita


Esta visita ao SAT irá acontecer entre o dia 1 e 4 de Novembro

Dia 1 de Novembro
As duas comitivas partem de manhã de Lisboa e de Faro, rumo a Somonte, quinta ocupada há cerca de seis meses, próxima de Palma Del Río, Córdoba. Pernoitaremos na quinta.

Dia 2 de Novembro
Saímos de Somonte rumo a Marinaleda, situada próximo de El Rubio. Pernoita em Marinaleda.

Dia 3 de Novembro
Partimos de Marinaleda em direcção a Sevilha, passando por Osuna, local de forte implantação do SAT e onde se procedeu à ocupação de La Turquilla, terra pertencente ao exército que apenas usa 1,5% da sua área. Pernoita em Sevilha.

Dia 4
Regresso a Lisboa e Faro, desde Sevilha, onde visitaremos um instituto de investigação ligado à CNT-Barcelona, o ICEA. Também tentaremos conhecer a Corrala de Vecinas e saber como se processa a sua luta.
No final, regresso a Portugal.


O que queremos saber


Na algibeira e nas nossas mentes levamos várias perguntas a que desejamos responder nesta viagem. Por exemplo, como foi possível o SAT, e antes dele o SOC, conseguirem criar uma capacidade de mobilização como a que a assistimos, desde os anos 70 até aos dias de hoje? Como é que nas nossas terras e nas nossas associações podemos conseguir feito semelhante? Qual é a visão do mundo e o projecto de sociedade que anima e inspira a luta do SAT?

Em baixo seguem as perguntas que formulamos à partida, às quais outras se irão somando, à medida que se aproxima o dia da partida e as nossas ideias vão ficando mais sistematizadas.
Depois da viagem - e se possível durante - iremos acrescentar perguntas que nos forem surgindo e respectivas respostas.

Sobre o SAT:
1.a) O que é o SAT - Sindicato Andaluz de Trabajadores/as e como se organiza?
1.b) Qual a sua história? Como se tornou possível uma tão forte mobilização e com reivindicações tão estruturais?
1.c) Consideram que alguma tradição anarquista andaluz contribui para a actual forte mobilização? Se sim, como se transmitiu essa tradição dentro dos anos da desgraça ditatorial franquista?
1.d) Como é a tomada de decisão dentro do SAT e a participação das bases?
1.e) Como poderá ser a articulação entre o SAT e os movimentos sociais, como @s indignad@s, os movimentos contra os desalojamentos e tantos outros, efectivar-se? Daqui poderá nascer uma democracia fortalecida, mais participada e directa? Há alguma estratégia nesse sentido?
1.f) Como poderá a forma de luta e o conteúdo das reivindicações do SAT inpirar sindicatos, e movimentos sociais, noutras partes do mundo? Que factores podem contribuir para esta inspiração?
Em especial do outro lado da fronteira com Portugal, no Alentejo, como poderá a luta propagar-se a esta região portuguesa deprimida que tanto precisa de mobilização?
1.g) Tendo o SAT nascido de vários sindicatos, pelo menos um deles um forte sindicato ligado à terra e ao campesinato, como vêm a actual situação de patenteamento de sementes por grandes empresas? Como vêm a perda de património vegetal, com o desaparecimento de muitas variedades tradicionais? Como inverter este rumo?

Sobre Marinaleda
2.a) Marinaleda é uma das povoações andaluzes mais mediáticas. Qual é a diferença que apresenta em relação às outras povoações do estado espanhol?
2.b) A democracia em Marinaleda é representativa como "normal" ou mais participativa e directa? Que mecanismos existem para se exercer essa participação? Há petições, referendos locais, revogação de mandatos? As assembleias gerais acontecem com que periodicidade? Têm alguma metodologia organizativa? Como fazem para que toda a gente que deseja pronunciar-se numa assembleia o possa fazer? Quem tem assento e qual a taxa de participação? Os representantes dos partidos da oposição também podem participar? E desejam participar?
2.c) Há outros casos semelhantes a Marinaleda no estado espanhol? E noutras partes da Europa?
2.d) No que diz respeito à educação, quais os graus de ensino que há na povoação (até que idade)? Qual é a abordagem ao ensino? São usadas outras pedagogias, por exemplo, mais emancipatórias? Como vêm a transmissão às novas gerações dos valores socialistas que regem Marinaleda?
2.e) Como é a evolução demográfica de Marinaleda? Tem subido, estagnado ou perdido habitantes? Qual a diferença, se alguma,  para as povoações da região onde se insere?
2.f) A oposição (partido "socialista" espanhol, PSOE) diz que Marinaleda está estagnada e que as pessoas para terem trabalho têm de participar em greves e agitar bandeiras. Também se diz que Marinaleda sobrevive graças a subvenções estatais e que portanto o seu exemplo é uma farsa. O que têm a dizer a isto? Essas subvenções que recebe são diferentes do que acontece em média noutras povoações em Espanha?
2.g) Que factores podem ajudar, e que factores podem entravar, o aparecimento de exemplos semelhantes a Marinaleda noutras partes de Espanha e da Europa?

Transversal
3.a) Não vos parece que o mediatismo está muito centrado nas pessoas de Cañamero e Gordillo? Isto é uma questão de comunicação social ou há de facto um centrar de atenções, seja de fora para dentro (de quem não está em Marinaleda ou no SAT), seja de dentro das próprias bases? Existem outras pessoas em Marinaleda e no SAT que poderão fazer a transição geracional, assumindo maior protagonismo e mantendo a mobilização?
3.b) Como vêm o futuro num mundo com maior escassez de recursos, designadamente no que diz respeito ao petróleo? Que impacto poderá ter nas comunidades? A auto-organização local e regional é um desiderato a atingir? Como criar estruturas de saúde, educação, produção alimentar, habitação, vestuário, governo, cultura, asseguradas local ou regionalmente?

Introdução/Porquê esta viagem


Na Andaluzia existe um sindicato - o SAT, Sindicato Andaluz de Trabajadores/as - que pela sua acção nos inspira e enche de esperança nestes tempos conturbados que atravessamos.

Desejando conhecer mais por dentro aquilo que este sindicato realiza - através das pessoas que dele fazem parte ou que se associam às suas acções - para ultrapassar os problemas actuais, através de organização e formas de luta colectivas, decidimos realizar esta viagem de quatro dias à Andaluzia, onde passaremos por sítios como Sevilha, Marinaleda e Somonte.

Para quem não queira esperar pelo relato da nossa viagem, há bastante informação disponível sobre o SAT, desde a sua página oficial, a vídeos no youtube sobre por exemplo as ocupações de estabelecimentos bancários, passando pelas ocupações de terras, neste caso num tema mais próximo do que são as origens do sindicato. A cada vez mais mediática povoação de Marinaleda também está fortemente associada ao SAT. Encontra-se informação sobre Marinaleda, o município socialista, aqui, aqui ou aqui.

Em baixo seguem vários testemunhos das pessoas que vão participar nesta viagem, partilhando aqui qual a curiosidade, finalidade ou sonho que as move até à Andaluzia nestes primeiros quatro dias de Novembro.

"Tive oportunidade de visitar Marinaleda e o SAT em 2010. A vontade surgiu depois de ler um artigo da revista visão sobre a povoação andaluz, onde se diz que ter casa custa 15€ por mês. No local pude comprovar o que a revista afirmava, através de uma visita guiada de um morador, que gentilmente nos mostrou a sua casa.
Quando nos dirigimos ao ayuntamiento, os "paços do concelho" de lá, o que mais saltou à vista foi ter o gabinete do presidente da câmara imediatamente à entrada, de porta aberta, acessível a quem precisasse de lhe falar. Não foi preciso ultrapassar umas escadas majestosas e intimidantes ou uma secretária zelosa, como muitas vezes acontece em Portugal (e um pouco por todo o mundo).
Passados dois anos regresso para mais uma visita, desta vez preparado com uma série de perguntas a que desejo dar resposta, para saber de que forma será possível algo semelhante começar a surgir em Portugal."
Alexandre Ferreira


"Tenho muita curiosidade e entusiasmo social, político, pessoal, cultural, económico, geográfico, agrícola etc para conhecer o SAT, as pessoas e experiências que iremos conhecer mais de perto nesta viagem.
Estou a iniciar o 3º ano no Mestrado de Economia Social e Solidária (ISCTE-Lisboa), onde se fala muito de alternativas, reais e sonhadas, como o SAT.
Parabéns e obrigada pelo blog, um meio de comunicação partilhada muito rico."
Abraço e até já
Marta G.